Projeto de bicicletas compartilhadas na Cidade Universitária quer ser modelo para cidades brasileiras

Projeto de bicicletas compartilhadas na Cidade Universitária quer ser modelo para cidades brasileiras

As bicicletas compartilhadas estão de volta à Cidade Universitária, onde está localizado o Parque Tecnológico da UFRJ. A partir do dia 03 de outubro, quando será inaugurado um novo sistema coordenado pela Coppe/UFRJ, os usuários poderão se deslocar gratuitamente pedalando até a região do campus onde desejam parar, ou bem próximo a seus destinos, sem a necessidade de deixar o veículo em pontos específicos, como as estações. A solenidade do lançamento oficial será dia 05 de outubro, às 10 horas, no Auditório do Horto, na Prefeitura Universitária.

A iniciativa faz parte do projeto “Ampliando o alcance da mobilidade ativa no laboratório vivo da Cidade Universitária da UFRJ”, que tem como coordenadores os professores do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe, Marcio D’Agosto e Suzana Kahn, também coordenadora do Fundo Verde/UFRJ; e o professor do Programa de Engenharia de Produção da Coppe, Lino Marujo; e conta com a participação de quatro pesquisadores, financiamento da Faperj e apoio da Prefeitura Universitária e do Fundo Verde. As bicicletas e o software de gerenciamento do sistema são fornecidos pela empresa Serttel – Soluções em Mobilidade e Segurança Urbana.

O novo sistema iniciará com 70 bicicletas e está estruturado para atender a todos que tenham uma matrícula na UFRJ – alunos, técnico-administrativos, pesquisadores e professores – e aos moradores da Vila Residencial. Durante o período máximo de uma hora por viagem, eles poderão usufruir deste veículo ambientalmente sustentável, iniciando e concluindo o deslocamento em uma das 25 regiões da Ilha do Fundão, denominadas manchas e selecionadas de forma criteriosa, por estimativa de demanda. Para utilizar o serviço, basta baixar no smartphone o aplicativo “Integra UFRJ” e realizar o cadastro, ou mesmo atualizá-lo, no caso de quem já utilizava o serviço anterior implantado pelo Fundo Verde. O aplicativo pode ser baixado pela Play Store ou pela App Store.

Para saber os locais onde há bicicletas disponíveis, bastará consultar o aplicativo. Uma vez diante da bike, como explica a pesquisadora da Coppe, Mariana Marques, o usuário deverá utilizar o próprio smartphone para desbloqueá-la, acionando um dispositivo nela instalado, e, a partir daí, sair pedalando pelas ciclovias, recentemente restauradas para o projeto. Ao terminar o deslocamento, sempre em local pertencente a uma das manchas, o usuário estacionará e travará a bicicleta de forma manual e usará o celular para encerrar a viagem. Desse modo, a bicicleta será bloqueada automaticamente.

Mariana, aluna de mestrado do Programa de Engenharia de Produção da Coppe, alerta que é importante o usuário não esquecer de encerrar a viagem pelo aplicativo. Caso contrário, o sistema de gerenciamento considerará que ele ainda está usando o veículo e, quando o tempo de uso ultrapassar 60 minutos, o usuário será suspenso por 72 horas. Tal suspensão é a multa padrão aplicada a todos que ultrapassarem uma hora de uso. A pesquisadora da Coppe também aconselha que o usuário bloqueie o veículo sempre que se distanciar da bicicleta ao fazer paradas, de forma que a mesma não seja utilizada por outra pessoa.

Os deslocamentos serão monitorados pela equipe da Serttel que, pelo mapa do sistema de gerenciamento, terá acesso ao posicionamento de cada bicicleta, a partir do dispositivo nela instalado e que se comunica por GPS. A atualização será a cada 30 segundos, o que auxiliará nas tomadas de decisão dos técnicos da empresa.

Seja para transportar as bicicletas de uma mancha para outra quando for identificado que, por muito tempo, há quantidade excessiva na primeira e carência na segunda, ou mesmo para fazer manutenção de uma bicicleta que tenha alguma avaria detectada, o que poderá ser realizada no local em que ela estiver parada.

O professor Márcio D’Agosto, coordenador geral do projeto, diz que o objetivo é desenvolver um “laboratório vivo” que forneça mobilidade ativa para o corpo social da Cidade Universitária. De acordo com Márcio, a iniciativa também visa monitorar informações consideradas relevantes para atender ao conceito de cidade inteligente, por meio do uso deste sistema dockless de compartilhamento de bicicletas, que dispensa estações.

“As informações serão adquiridas por meio da participação dos usuários que percorrerão o campus usando as bicicletas fornecidas. O aplicativo instalado em seus celulares será utilizado tanto para destravar e bloquear os veículos, como para nutrir nossos pesquisadores de dados que servirão para a construção de ações concernentes à área de mobilidade sustentável”, explica Márcio.

Este novo sistema de bicicletas compartilhadas chega para ampliar os benefícios do anterior, cuja experiência foi aprovada pela comunidade da UFRJ. Ele funcionava com 60 bicicletas, oito estações e 6 km de ciclovia, e foi utilizado na Cidade Universitária de setembro de 2017 ao início de 2020, quando teve início o isolamento social em função da pandemia da Covid-19.

Implantado pelo Fundo Verde e coordenado pela professora Suzana Kahn, atingiu uma média de 3 mil cadastros de alunos por ano e mais de 83 mil viagens realizadas, com pico de 5 mil em um único mês. Para se ter uma ideia da aceitação, em junho de 2018 já era contabilizado uma média de 130 viagens diárias.

De acordo com o pesquisador do Fundo Verde, Bruno Allevato, no período de pico, hora do almoço e final da tarde, a demanda foi tanta que chegou a superar a oferta de veículos. Por isso, em algumas vezes, não havia bicicletas disponíveis nas estações. Segundo dados da Serttel, cerca de 20% das viagens diárias ocorriam entre as 10h e 12h. Bruno, que também integra a equipe do atual projeto, explica que todas as informações coletadas na primeira experiência foram muito importantes para subsidiar a implantação deste novo projeto.

Agora, a intenção dos pesquisadores é que, a partir de casos práticos, a experiência da implantação do sistema de compartilhamento de bicicletas dockless na Cidade Universitária  se transforma em verdadeiro Laboratório Vivo (living lab), servindo de modelo para as cidades brasileiras. De acordo com a professora da Coppe, Suzana Kahn, os resultados obtidos possibilitarão seu escalamento para ambientes maiores e mais complexos do que o campus universitário, servindo de base para utilização das soluções desenvolvidas em locais mais amplos, como as cidades metropolitanas.

Suzana, que também é vice-diretora da Coppe, diz que esta iniciativa pode gerar identificação de oportunidades e de necessidades de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) para o planejamento urbano sustentável. “O uso das bicicletas para mobilidade traz muitos aspectos favoráveis, como preservação do solo e vegetação local, e menor degradação e redução de manutenção da infraestrutura da rede viária. Além disso, pode propiciar um ganho de tempo considerável para os ciclistas nas curtas e médias distâncias e melhora na saúde e bem-estar deles. Por estas questões, achamos importante que haja uma rápida inserção destas soluções na sociedade” explica Suzana, que coordenou o capítulo de Transportes do mais recente relatório do IPCC, divulgado em abril deste ano.

A partir da implantação deste sistema, duas questões consideradas importantes serão analisadas pela equipe de pesquisadores, que também inclui a aluna de mestrado, Fernanda Maio e o aluno de doutorado, Victor Hugo de Abreu, ambos do Programa de Engenharia de Transportes, e o aluno de graduação da Escola Politécnica, Gabriel Lima. A primeira questão é se o usuário de carro particular migrará para o transporte coletivo, a exemplo de ônibus, para se deslocar à Cidade Universitária, já que as bicicletas serão mais uma opção para que cheguem ao destino final dentro do campus e também facilitará o deslocamento interno.

Já a segunda é a performance diante do sistema tradicional que utiliza docas (estações). Nesta questão, será levado em conta aspectos como os custos de infraestrutura, veículo, operação e manutenção; e o nível de serviço oferecido, envolvendo a disponibilidade das bicicletas, acessibilidade, flexibilidade e segurança.

Para avaliar a performance deste sistema em relação ao tradicional, os pesquisadores estimarão a redução de consumo de energia e as emissões evitadas de CO2 e de alguns poluentes atmosféricos. Nos estudos, ainda levarão em conta a utilidade das bicicletas na potencialização de mobilidade, além do impacto social.

Fonte: Coppe UFRJ