Estudo da UFRJ aponta benefícios da agricultura salina no combate às mudanças climáticas e fome

Estudo da UFRJ aponta benefícios da agricultura salina no combate às mudanças climáticas e fome

Foto: Raphael Pizzino (SGCOM/UFRJ) 

Texto de João Guilherme Tuasco para o Conexão UFRJ.

O cultivo de plantas em terras salinas com a presença de bactérias, fungos e outros seres microscópicos do mar — que integram microbiomas — pode ser a chave para reduzir as emissões de carbono e impulsionar uma economia sustentável. A técnica, conhecida como agricultura salina, reduz a necessidade de água doce e possibilita o uso de terras mais áridas, o que expande a oferta de alimentos. É o que apontam pesquisadores do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IB/UFRJ) em um artigo publicado em junho no mLife, periódico internacional sobre microbiologia. A pesquisa também teve colaboração de cientistas da África do Sul, Canadá e Holanda.

Os autores destacam que a utilização de microbiomas na agricultura salina pode fazer com que as plantas se adaptem melhor ao ambiente rico em salo, pois os micro-organismos são capazes de modificar a fisiologia dos vegetais ou alterar o habitat das raízes. Estes seres também ajudam a oxigenar a água, pois realizam fotossíntese. Dessa maneira, reduzem a quantidade de gás carbônico, principal gás do efeito estufa. Com isso, é possível mitigar as mudanças climáticas, ter maior disponibilidade de alimentos e fortalecer a economia azul, que leva em conta o uso sustentável dos recursos do oceano.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, em 2019 aproximadamente 35,4% dos estoques de pescados eram resultado da pesca predatória, que ignora a sustentabilidade marinha. Segundo os pesquisadores do Instituto de Biologia, é preciso pensar novas formas de renda além da pesca predatória e da maricultura, que representa menos de 40% da produção de alimentos marinhos.

Para isso, é essencial o fortalecimento de alianças entre países do Oceano Atlântico, que têm grande potencial para a economia azul. A título de exemplo, nações como Brasil, Estados Unidos e Canadá integram a Aliança para a Pesquisa e Inovação em Todo o Oceano Atlântico (AAORIA, na sigla em inglês), que reúne iniciativas focadas na observação das mudanças climáticas e do oceano. “Acreditamos que os países que fazem fronteira com o Oceano Atlântico, incluindo representantes do Sul e do Norte Global, podem criar parcerias significativas para fornecer o investimento e a inovação científica necessários para abordar vários dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas”, afirmam os professores Cristiane e Fabiano Thompson, do Instituto de Biologia, e os pesquisadores internacionais Alice C. Ortmann, Henk Bolhuis, Thulani Makhalanyane.